segunda-feira, 17 de março de 2008

limões ou meia laranja


quando nos divorciamos, nos tempos mais proximos toda a gente evita tocar no assunto com se de uma "tragédia grega" trata-se. não é uma tragédia mas sim, uma doença crónica, "alergia". primeiro, porque ficamos alérgicos ao casamento. e depois, porque as pessoas ficam alérgicas a nós. ficamos de fora nos jantares de casais, nas férias de casais, nos fins-de-semana de casais. somos um número ímpar, que não serve para nada, nem para desempatar. o mundo está pensado a dois, quase tudo funciona aos pares, desde a entrada na discoteca "só para casais" até aos prémios de viagens. no natal sentimo-nos desamparados e nos casamentos sentimo-nos deslocados, olhamos para os noivos e pensamos secretamente: coitadinhos, ainda há-de chegar o vosso dia. mas nem sempre tudo é mau. se uma pessoa se divorcia, em princípio, é para se ver livre de uma chata(o) qualquer. é para mudar de vida, e quando se muda, espera-se que seja para melhor. as mulheres nos primeiros tempos ficam de recobro do divóricio, quando tem alta, encurtam as saias, vão para a ginástica, pintam o cabelo e passam a guiar com se de uma garota se trata-se. os homens, os candidatos a "garanhões" que regressam à arena, mudam para um apartamento de preferencia numa zona in, adquirem uma aparelhagem xpto e um sistema completo de home-cinema, mobiliário moderno e compram um descapotável. é um clássico. os que não andavam no ginásio, inscrevem-se, e começam a preocupar-se com a aparencia. e, depois de um período de tristeza e neura, recomeça a caça. há quem nunca levante a cabeça e saia definitivamente da escuridão pós traumática de ter a abreviatura Div. no BI. porque é que não imaginam que Div. também pode ser abreviatura para divertido, diversificado, diversão? os inconsoláveis são a raça mais chata do mundo, porque ou ficam malucos e incapazes de se entusiasmar com qualquer outra pessoa, ou decidem vingar-se na próxima(o) o mal que sofreram. nestes casos, o melhor é guardar distância e esperar que lhe passe a estupidez. e depois há aqueles que gostam imenso de se casar e por isso não descansam enquanto não encontram uma que também goste de praticar o mesmo desporto. estão sempre safos, porque como geralmente as mulheres também ligam muito a estatuto, encontram com facilidade uma companheira. mas estes são poucos, porque uma coisa que se descobre depois de levar com o carimbo do Div. no BI é que se pode namorar até ao fim da vida, sem ninguém ter que se casar outra vez. só a trabalheira que dá, a festa, os convites, a roupa, a data, a lista, os convidados não compensa o esforço. até porque quem casa segunda vez não se pode ter esquecido do trabalho que deu o divórcio, como por exemplo quem fica com o album de fotografias?. E há quem diga que o casamento é o primeiro passo para o divórcio. aprende-mos que se a vida dá limões, faz-se limonada. mas existem pessoas que passam toda a vida a fazer limonada com os limões que a(o) companheira(o) lhe foi dando ao longo do tempo. ninguém é obrigado a viver com o limão toda a vida, só se for engenheiro agronomo, ou gostar mesmo de limonada. também temos direito a nossa metada da laranja. apesar desta conversa da metade da laranja nem sempre funciona, hoje em dia somos tantos biliões, e se a minha metada da laranja mora no nepal, tiver pele amarela, 1.10m de altura é trabalha na apanha do arroz? agora a sério, depois do divórcio fica-se com um certo medo de não voltar a acertar. até porque como hoje deve haver mais divorciados do que casados, o estigma já é muitas vezes ainda estar casado. as pessoas perguntam por um amigo que não vêm há anos: fulano ainda está casado? como fosse um feito histórico com direito a condecoração, no dia 10 de junho. a pergunta que faço é: uma pessoa tem ou não feitio para estar casado? uns sim, outros não. e os que não têm, não devem ser teimosos e repetir os mesmo erros à espera de resultados diferentes. o problema é que a maioria dos homens, que pensam que não têm, quase sempre não passam sem uma mãezinha que lhe ponha a vida em ordem. e as mulheres, mesmo as mais independentes, sentem a falta de alguém que lhes aconchegue os lençóis à noite e pendure os varões das cortinas novas do quarto das crianças. resumindo e concluindo, se calhar andamos todos a brincar às pessoas autónomas, quando no fundo no fundo adorávamos encontrar alguém que gostasse mesmo de nós e para quem nós fossemos mesmo importantes. a tal cara-metade ou metade da laranja que às vezes nos sai cara.

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